sexta-feira, 25 de setembro de 2009

voto consciente!

Alô povão, agora é sério. Chegando as eleições pra síndico do condomínio. É a hora do voto consciente. é o bonde do Jardim Pernambuco mandando um salve pros manos do Leblon, a galera de BH, na correria da Savassi! e os truta do corre nos Jardins, toda a galera jet set de Sampa! Salve, tamo fechado.

O mano Washington fez a letra do nosso jingle, não confundir com cumpadi Washington, quem fecha com nós é o Olivetto:


ah eu to bolado, ah eu to bolado. Bonde do Jota Pê! tem que ser respeitado!


Um salve pro Maneco. É nós, o pessoal da facção tá todo contigo. É nós, a novela tá bonita.





quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Isso aí é mais ou menos sobre o desapego ao trabalho e sobre essa paixão pelo samba. Mentira.
Parada na porta do ateliê, vejo uns homens caminhando com instrumentos. Cuíca, violão, pandeiro, cavaquinho... Interrompendo o andar do grupo, pergunto onde vai ser o samba. Me respondem que ia ser no asilo. Achei graça naquilo e perguntei se eles não iam fazer um outro samba, pro pessoal que já deixou de usar fraldas, mas ainda não voltou. Disseram que era só no asilo mesmo, que eu podia ir lá. Na hora eu decidi que não ia, mas daí eu olhei pro preto que carregava o violão, ele era magrelo, parecia o Cartola. Tinha cara de tocar muito. Eu realmente queria ver aqueles caras fazendo música, era um grupo grande, parecia bom. Eles eram velhos, não velhos da idade dos velhos de asilo, era mais o estilo, pareciam saídos da década de 40, pareciam muito aquela turma que freqüentava a praia de Ramos no tempo que Ramos era uma praia e não um cimentado estadual. E depois de ouvir o disco do Nélson Cavaquinho que estou usando diariamente, digo usando, porque é o verbo que costuma se associar ao vício, mas o fato é que eu tinha que ver aqueles caras tocarem, e pouco importava onde seria, já que eu sabia que ia estar em razoável companhia: sozinha.
Tranquei o ateliê e fui. Perguntei na padaria onde ficava o asilo. Como a história se passa no centro histórico de Paraty, eu posso dizer A padaria, O asilo. O cara da padaria me disse que o asilo era logo ali na frente, desconfiei. Achei que fosse ter de caminhar alguns minutos, mas era mesmo ali na frente. Uns trinta metros e eu já tava batendo na porta do lugar, conforme me orientaram. Uma velhinha veio, sorrindo, eu perguntei se eu podia ver o samba deles, ela disse que sim com muita simpatia. E ia ela mesmo abrindo a porta, eu achei que alguém da instituição abriria, e não um idoso, mas foi assim. Ela tinha tanta dificuldade pra abrir a porta, fiquei com dó da velhinha e nessa hora percebi que ela só tinha um olho. Comecei a achar ruim a idéia que antes me parecia mais que excelente: fechar o ateliê e ir pro samba. O cenário era estranho, não era triste, porque era um lugar aberto, o céu tava lindo, era uma tarde bonita, e não tinha muita gente. Pra ser específica, eram os sete caras da banda, três velhos espalhados pelo local, sentados, e eu. Sentei num banco do lado de uma cadeira em que um velhinho estava, ele sorriu pra mim, simpático demais. Comecei a achar aquele pessoal muito mais cheio de vida do que os meus amigos ranzinzas da adolescência. Apesar disso, era o samba mais desanimado que eu já vi, mas tenho certeza de que a ausência total de euforia era devido a quantidade de álcool que os velhos tem acesso, que é nenhuma. Pensei de voltar num outro dia e levar uma garrafinha da cachaça local para o velhinho simpático que não parava de me olhar com ar de garoto apaixonado. Mas logo me censurei da sandice, óbvio que eu não podia levar cachaça para os velhos, imagine se um morre por causa de complicação no fígado, eu nunca ia me perdoar, sepultei meu pensamento estúpido e comecei a prestar atenção, ah como eu queria saber tocar violão. Que instrumento orgânico, não precisa cabo, ampli, palheta... O velho que tava do meu lado, alegre, apontou pro cara do pandeiro e disse: “Ele bate bem.” Eu fiz que sim com a cabeça e sorri de volta. De repente o pessoal do grupo começou a cantar num uníssono, até então era só instrumental, a velhinha que me abriu a porta apareceu e começou a sambar, arrancando risos de todos, ela sambava tortinha, mas com o sorriso rasgado. Um cara do grupo falou alto: “É isso aí, gostei!” Durou alguns segundos, mas aquilo foi lindo, claro que ela não agüentaria dançar muitas músicas.
Eu continuaria ali mais tempo, não fosse o trabalho, resolvi ir embora, reabrir o ateliê. Estendi a mão pra me despedir do velhinho que estava próximo de mim, quando percebi a falta de dedos que ele tinha. Apertei sua mão e fui até a velhinha dizendo que “tava de saída”, nos abraçamos, ela me levou até a porta, perguntou meu nome, eu respondi e perguntei o dela, a velha disse: “Meu nome é Justina, o final é tina, me chamam de Tininha.” Daí eu disse: “Prazer, Tininha”. E num equívoco ela me agradeceu. Saí de lá com o coração cheio de um negócio muito bom. Enquanto andava ia julgando mal as pessoas que levaram aqueles velhinhos tão amáveis pra morar num asilo. Abro a porta do ateliê, toca o telefone, é minha vó. Eu não preciso nem dizer, ela já me pergunta se eu to ocupada, mecanicamente digo que sim e peço que ela me ligue em quinze minutos, mas antes de recomeçar o desamor de sempre resolvo conversar com ela: trinta minutos de conversa pra sarar um pouco a tristeza do seu acúmulo de vida, no fim das contas, rimos muito, ela tem um humor impagável quando a gente faz por merecer. A velha me diz umas pérolas que faço questão de tomar nota. É uma vantagem de se conversar ao telefone, você pode anotar o que a pessoa diz sem que ela tenha a menor idéia disso. E me conta do dia em que Nelson Rodrigues escreveu uma crônica sobre ela e minha mãe para a revista “O Cruzeiro”, na qual ele dizia que a juventude transviada também amamentava, a juventude transviada no caso era a minha vó. Que tarde ensolarada, quando acontece dessas coisas dá até pra gente fazer um esboço do tal amor ao próximo.



Ontem subiste
Eu desci
Hoje eu subo tu desces
É tão triste cair
Sorriste da minha dor
Este mundo é uma escola
Não se esqueça de aprender, meu amor

Ontem subiste
Eu desci
Hoje eu subo
Tu desces
É tão triste cair

Sorriste da minha dor
Este mundo é uma escola
Não se esqueça de aprender, meu amor

Ontem negastes a mão
Quando eu quis me levantar
Mas aprendeste a lição
E hoje estou pronto pra te ajudar
Hoje subiste eu desci
Hoje eu subo tu desces
É tão triste cair

(Nélson Cavaquinho)