quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Um Soneto

Soneto de Teresa de Ávila, 1515-1582

Ao Cristo crucificado (Tradução de Manuel Bandeira, 1886-1968)


Não me move, Senhor, para querer-te,
o céu que me hás um dia prometido;
nem me move o inferno tão temido,
para deixar por isso de ofender-te.


Move-me tu, Senhor, move-me o ver-te
cravado nessa cruz e escarnecido;
move-me no teu corpo tão ferido
ver o suor de agonia que ele verte.

Move-me ao teu amor de tal maneira,
que a não haver o céu eu te amara
e a não haver o inferno te temera.

Nada tens a me dar porque te queira
pois se o que ouso esperar não esperara,
o mesmo que quero te quisera.

sábado, 21 de maio de 2011

A Cruz, de Luiz Felipe Pondé - Jornal Folha de São Paulo, 2009.

ANOS ATRÁS, em Paris, o historiador Jacques Le Goff me falava da sua preocupação com o destino da cultura ocidental. Para ele, o Ocidente poderia perder sua identidade como resultado de sua própria produção cultural.

Outros intelectuais também partilhariam de suas inquietações. Entre eles, o antropólogo Lévi-Strauss, morto semana passada. Le Goff se inquietava porque parte das agonias da cultura ocidental teria sido fruto dos "achados" da história e da antropologia e seus frutos, as filosofias e políticas relativistas do século 20.

O relativismo existe desde os sofistas gregos e tem em Protágoras seu ícone máximo de então. Mas o que é "relativismo"? Em Protágoras é: "O homem é a medida de todas as coisas" (versão curta). Isto quer dizer que tudo é criação humana: a moral, a religião, enfim, as verdades de cada cultura. Sentados num bar, diríamos: "Cada um é cada um".

A história contemporânea acentuou essa versão das coisas quando afirmou que as épocas têm suas concepções de mundo específicas e que não podemos dizer que uma época seja melhor do que a outra. A antropologia, por sua vez (e aqui entra Lévi-Strauss), afirmou que as culturas não podem ser comparadas umas com as outras sem cometermos o pecado de não percebermos que cada cultura seria um sistema fechado em si mesmo, onde um comportamento só poderia ser julgado pelos valores morais da própria cultura.

Por exemplo, matar bebês pode ser um horror moral acima do equador e uma obrigação sublime abaixo do equador. É comum remeter a Lévi-Strauss a descoberta da "dignidade intrínseca" de cada cultura, e que não se deve julgar uma cultura usando valores de outras.

Não há dúvida que essa atitude é essencial para a antropologia. O problema começaria quando pensamos no impacto do relativismo no próprio Ocidente que o inventou. Dito de outra forma: o relativismo se transformou numa militância política e moral apenas no Ocidente. Enquanto os ocidentais estariam sofrendo de uma "indigestão" devido à assimilação do relativismo, as "outras" culturas, estudadas pelos próprios ocidentais, permaneceriam no seu repouso não contaminado pelo relativismo. Trocando em miúdos: muçulmanos podem permanecer acreditando em seu paraíso com virgens, índios em seus espíritos da floresta, enfim, apenas os ocidentais deveriam "relativizar" seu Deus e suas "verdades".

Sendo os cientistas sociais, os filósofos, os professores e os jornalistas maciçamente ocidentais, seriam as crianças deles que deveriam ser educadas duvidando da validade universal de seu mundo. Aí entra a inquietação de Le Goff: o Ocidente poderia se dissolver como identidade à medida que relativizaria a si mesmo, enquanto as "outras" culturas seriam poupadas da crítica relativista, porque indiferentes à angústia relativista ocidental e, também, porque contam com a simpatia do Ocidente nessa indiferença e na defesa de sua "dignidade intrínseca".

A verdade é que os homens são sempre contraditórios e, ainda que eu não saiba se Lévi-Strauss de fato partilhava da mesma angustia de Le Goff, algumas pessoas afirmam que ele admirava seu avô Rabino e que julgava os racionalistas ateus uns chatos e preferiria aqueles que acreditam em Deus. Pode ser boato, mas isso faria dele um homem mais interessante do que alguns que engoliram o relativismo assim como quem come pão e vai ao circo.

Um exemplo da "indigestão" causada pelo relativismo no Ocidente é o recente caso dos crucifixos nas escolas italianas. Aparentemente uma mãe se queixou de que o filho se sentia "desrespeitado" porque, não sendo cristão, tinha que frequentar uma sala de aula com uma cruz na parede. A partir daí, teriam decidido pela proibição do crucifixo nas escolas.

Essa decisão é ridícula porque a cruz é um símbolo, seja eu cristão ou não, das raízes do próprio Ocidente, naquilo que ele mais preza: amor ao próximo, generosidade e justiça, enfim, um Deus que morre de amor. Nós contemporâneos somos ignorantes de um modo gritante acerca do cristianismo, confundindo-o com alguns de seus momentos mais infelizes e cruéis (toda cultura é infeliz e cruel de alguma forma). Essa proibição cospe na cara de 2.000 anos de história de uma grande parte da humanidade, e os ignorantes que a realizaram deveriam ser obrigados a pedir desculpa aos cristãos.

terça-feira, 8 de março de 2011

Singela Homenagem ao Grande Mussum

Tô considerando romper meu relacionamento com a marvada pinga e seus filiados e ficar só na sacarose e na cafeína...

No vídeo em anexo a dra. Ana Beatriz Barbosa informa sobre o consumo de álcool com dados surpreendentes que não estão associados ao consumo desregrado, mas ao aperitivo de fimdesemanis.

"O álcool é uma droga muito pesada que faz um processo inflamatório no cérebro, muda a neurobioquímica toda, muda a transmissão elétrica das sinapses. O álcool é capaz de fazer destruições em tudo que é envolto em gordura, o nosso cérebro todo é envolto em gordura isolante porque ele é uma cadeia de ligações elétricas. Então, o álcool, ele sempre faz lesão onde tem tecido adiposo, e o nosso cérebro é banhado, é revestido de tecido adiposo..." "...As conseqüências são devastadoras: doenças auto-imunes a longo prazo, cirrose, diabetes, depressão, síndrome do pânico..."



Este post é em homenagem ao Mussum.


Veja a entrevista da Ana Beatriz para Marília Gabriela AQUI

Mas não deixo de RIR, ainda que esteja a CONSIDERAR!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sobre as "Bobagens" - Sobre ser bobo.

Das Vantagens de ser Bobo

- O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo.
- O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
- Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
- O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
- Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
- O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver.
- O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes o bobo é um Dostoievski.
- Há desvantagem, obviamente: Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de
um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse
que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea
onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não
funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era a de que o aparelho estava
tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.
- Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa fé, não desconfiar, e
portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser
ludibriado.
- O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu.
- Aviso: não confundir bobos com burros.
- Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das
tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: “Até tu,
Brutus?"
- Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
- Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
- Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
- O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
- Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
- Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham vida.
- Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás
não se importam que saibam que eles sabem.
- Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com
burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah,
quantos perdem por não nascer em Minas!
- Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cimas das casas.
- É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o
bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector, 12 de setembro de 1970.
Lendo Leonardo Boff, um autor que não é muito querido dos Apostólicos Romanos (foi excomungado), nem da maioria dos evangélicos, eu me deparei com coisas simples e verdadeiras, como deve ser tudo aquilo que diz tratar de assunto teológico. E assim eu redescobri a minha religião. Vi que de fato, Cristo não pregava Ele mesmo, mas o Reino de Deus.

O Reino de Deus. As parábolas de Cristo falam do Reino o tempo todo! Pq os homens que dizem crer não percebem isso?

Não importa nem mesmo o fato dEle ter nascido numa manjedoura, nem mesmo como se deu a morte que gerou ressurreição. Mas as palavras que saíram da boca de Cristo, isso importa. Isso permanece. As parábolas não podem ser alteradas pelo mesmo motivo que um trava-línguas não pode ser alterado.

As parábolas, os "causos": a humanidade precisa disso.

É só libertação. É só compaixão. É só amor. É Um rio de graça.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O Verdadeiro Culpado da Catástrofe da Região Serrana

Tem gente a caça do culpado da catástrofe da região serrana. O poeta Ferreira Gullar contou um caso curioso que ilustra bem como a razão é nula em alguns momentos. Se deveríamos ou não ter permitido a construção de casas nas encostas, ("deveríamos" por que nós somos o Estado) se deveríamos ter tomado ações preventivas... Como prever uma cabeça d'água dessa magnitude? Tais prevenções existem? Pra que elocubrar essas questões? Essas questões não vão levar cobertores, roupas, comida para os inúmeros desabrigados. Essas questões não vão salvar ninguém. Tranformar a dor alheia em conversa de botequim é crueldade.

São muitos sofrendo luto, façamos silêncio.

Saiba como ajudar os desabrigados.

domingo, 9 de janeiro de 2011

No Rio a Modern Sound

Em São Paulo o cine Belas Artes.


Dois prédios. Quem ou o que está falindo de verdade?






.