domingo, 6 de maio de 2012

Entrevista com Bezerra da Silva


A entrevista que o Bezerra da Silva NÃO me deu. 

Tempos atrás eu peguei na biblioteca um livro do Sérgio Cabral, (o Sérgio pai por que o Juninho é melhor nem falar nada), o “ABC do Sérgio Cabral”, um livro muito divertido. Sérgio Cabral era jornalista do O Pasquim e sabe muito sobre samba e cultura popular, apesar de ironicamente, ser vascaíno.
Então tinha lá no livro uma sacada de gênio que foi a construção de uma entrevista com Drummond, que na verdade não aconteceu como se concebe uma entrevista, o poeta era bem avesso a entrevistas, Cabral tratou de inventar uma através da sua pesquisa na obra do poeta. Ficou tão bacana que eu digitei palavra por palavra e publiquei aqui. Vou colar a brincadeira, com muito "menas" capacidade e diletância de sobra, com o aparato da internet vou me aventurar a “entrevistar” o Bezerra da Silva, que Deus o tenha, malandraço que segundo dizem foi tão malandro que pouco antes de morrer deu uma rasteira no diabo e se converteu a Cristo.
Ah, e toda palavra nessa entrevista com o Bezerra foi proferida por ele, sim, ainda que nas suas canções.
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TG – Boa tarde seu Bezerra, ouvi dizer que o senhor não gosta muito de dar entrevistas.
Bezerra da Silva – Assim como Jó suportou provações. Eu também vou suportar.
TG – Eu li que quando você era menino vendia cocada na praça Mauá. Qual vendia mais, a preta ou a branca?
Bezerra da Silva – É, cocada boa. Tem preto que come da branca, tem branco que come da preta. Tem gosto pra todo freguês, só não vale misturar, vai numa de cada vez, não misture o paladar.
TG – Nos tempos da juventude, a boemia e coisa e tal, a turma era de briga? Ouvi dizer que o Senhor travou uma navalhada épica com o Zé Tonico, e ele levou a pior.
Bezerra da Silva – Se eu não derrubasse, eu caía. Porque o malandro era forte, ele dava pernada, dava cabeçada, ele era de morte. Logo a mim que o malandro queria desmoralizar, até a minha crioula de fé falou que na marra ele ia tomar. A própria lei é quem diz que a defesa é um direito sagrado.
TG – E essa coisa da malandragem, ainda existe?
Bezerra da Silva – Conheço muito malandro que é malandro de conversa. Se a mulher não mete os peito, eles passa fome a beça.
TG – Você é um compositor respeitado, um cara muito importante na história do samba. Hoje você vive dos direitos autorais?
Bezerra da Silva – O meu salário é o mínimo, porém é o máximo que eu consigo vencer, eu só sei que recebi meu pagamento, que não deu pra comprar meu alimento, remarcaram os preços, eu fiquei a pé.
TG – Mas o senhor parece feliz agora, ainda que vivendo com o mínimo.
Bezerra da Silva – Eu andava nas trevas e clamei por Jesus, encontrei a verdade, um caminho de luz. Descobri que a vida era só ilusão, é preciso coragem pra tomar decisão, o encontro com Cristo a Deus me levará, com certeza na vida nada me faltará, e a paz prometida por Jesus de Nazaré só será concedida pra quem tiver fé, hoje estou liberto sem mágoa e rancor reconheço em Cristo o meu salvador, o mal foi banido e no meu peito é somente amor. Ganhei nova vida, com Jesus na frente eu sou vencedor!
TG – E você tava muito mal antes dessa nova vida?
Bezerra da Silva – Hepático, todo esquelético. Todo raquítico cheio de cosmético, e paralítico, coro hipotético.
TG – Nossa, eu não sabia disso.
Bezerra da Silva – Um cruel da pesada, chorando.
TG – E qual foi o momento mais pesado que o senhor já viveu?
Bezerra da Silva – Fui n'um forró lá na cachanga do Abdias, nunca vi tanta alegria e poeira levantar. Mas de repente quando bate meia-noite, chegou um cara com uma foice mandando o forró parar, mas se deu mal porque não foi de brincadeira. Apareceu tanta peixeira! Só via faca voar, voar, voar. Só via faca voar. E a culpada da encrenca foi Quitéria que deitou n'uma capela com o tal de Zé Gambá. O burburinho chegou no ouvido do marido, foi aí que o boi traído correu lá pra confirmar. Pegou a nega de chamego com o Zé, quebrou a cara da mulher e começou o bafafá. E eu que tava no forró, no sapatinho, fui saindo de mansinho me toquei no bambuzal. Faca voava que nem disco voador.
TG – Faltava a lei Maria da Penha nesse tempo... Um conselho malandro pra quem tá na pior, abandonado? Pra encerrar.
Bezerra da Silva – Você está no fundo do poço meu irmão, só existe Jesus Cristo que vai lhe estender a mão. Se você acreditar na palavra que Jesus é a porta, luz, caminho e verdade sua vida se transformará em um rio de amor.
TG – Eu te agradeço o nosso papo, seu Bezerra!
Bezerra da Silva – Conversa fiada matou carambola.