sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Primeiro Encontro

Marcaram no saguão de um shopping center muito frequentado pelos jovens da cidade. Riverton tinha dezessete anos e Leididaiane treze, era a primeira vez que se encontravam sem que uma tela os separasse, sem que as palavras fossem digitadas por seus dedos, era a primeira vez que respiravam o mesmo ar, depois de duzentos e vinte e cinco mil quatrocentos e trinta e dois caracteres digitados. Quanta enganação lírica, evidente que os dois só se conheciam pela internet. Leididaiane ruborizou-se, imaginava Riverton um pouco mais alto, o rapaz batia no seu ombro, e ela não tinha mais do que um metro e sessenta, mas isso não impediu que seu coração palpitasse ao vê-lo, o garoto tinha as mãos suadas, e saudou a mocinha com um mais nervoso do que respeitoso beijo na face. Ele comentou que gostaria de convidar a moça para um cinema, mas ao sábado era impossível para ele, talvez pudessem voltar na quarta-feira, ou em outro dia da semana, na sessão promocional das quinze horas, a menina fez que sim com a cabeça, mas disse que para ela só a casquinha do mc donald’s já era muito “da hora”.
Pediram então, ele quis a mista, ela escolheu a de baunilha, pra variar, desde criança pedia a de chocolate todas as vezes, como que de modo automático, dessa vez decidiu pedir a de baunilha, como se realizasse um rito de passagem para a idade adulta, afinal era a primeira vez que era convidada para um encontro. Passara uma hora e meia decidindo se ia de babylook preta ou laranja. Nenhuma das duas matizes valorizava muito a sua tez afro-brasileira, mas ela não se dava conta disso. Optou pela preta e a combinou com uma calça jeans muito mais justa que a sociedade brasileira. Nos pés, sandálias de salto anabela, e no lugar de brincos bonitos: grandes argolas douradas. Sentaram-se numa mesa da praça de alimentação, foi quando tiveram o diálogo que segue:
-Você é bonita, err... Mas sua pele era diferente nas tuas fotos do orkut.
-Ah é verdade! Photoshop! Também gostei de você, mas quando a gente conversou com microfone pelo skype, eu não percebi que você tinha língua presa...
As perguntas dissimulavam a cobrança e eram feitas como se fossem colocações. Os dois fingiam buscar esclarecer suas dúvidas, e o faziam com certa vergonha manifestada em raros gaguejos e tremores na dicção. Era visível, talvez até risível, o fato de que os dois eram muito mais atraentes em seus universos virtuais.
-Você usa aparelho nos dentes há quanto tempo?
-Sempre usei nos dentes.
E riram. O rapaz emendou dizendo que fazia uma brincadeira, ele usava aparelho fazia uns três meses, as fotos do orkut eram mais antigas...
-Eu pareço mais gorda pessoalmente? –Riverton ficou nervoso, era evidente que sim, a menina parecia pesar mais de cem quilos pessoalmente, nas fotos tinha um corpo na sua concepção, até que maneiro. Resolveu ser sincero.
-Eu achava que você era um pouco mais magrinha.
Ela sorriu, um sorriso que agradecia a sinceridade e delicadeza do rapaz. Não tinham mais sorvetes, e o nervosismo tomava o lugar da falta de assunto, foi quando o pequeno anão lascou na boca da pequena baleia um beijo de fazer inveja a galã de folhetim do horário nobre. Muitos hormônios sacudidos depois, conversavam sobre as bandas de rock que gostavam em comum e passeavam de mãos dadas pelo shopping, um tempo depois, quando os dois já estavam no ponto de ônibus, o ônibus da moça chegava, o motorista estacionou no método kamikaze, e antes que ela entrasse no ônibus ele deu mais um beijo, dessa vez rápido, de despedida.
Em casa, Riverton decidiu bloquear a Choquito no msn, e a Choquito por sua vez deletou o perfil do Cebolinha do seu rol de amigos no orkut. Teriam sido mais felizes não fossem dois metidos a se achar grande coisa.